Um dos propósitos das aventuras em Medievo é criar um arcabouço histórico, sendo ligada ao sobrenatural do imaginário medieval. Se você narrador leu com atenção o capítulo anterior, já deves ter uma ideia do que fazer com essa aventura. Algumas situações apresentadas nessa aventura são sugestivas, e o narrador pode mudar, ou até aumentar ou diminuir a dificuldade mediante a necessidade da fluidez da aventura com o grupo.
A CIDADE DE AACHEN
Geografia
A cidade de Aachen situa-se em região de planície no oeste da Alemanha, próxima à fronteira da Bélgica e dos Países Baixos, apresentando clima temperado, com chuvas bem distribuídas.
História
Seu nome germânico, Aachen, derivou de "aha" - "água", em antigo germânico. A cidade de fontes termais teve assentamentos humanos desde aproximadamente 2500 a.C. e foi durante a vida de Carlos Magno a capital do império carolíngio (chamava-se Aquis-granum, em latim). Denominada Aachen desde o século X, a cidade está situada na fronteira com a Bélgica e os Países Baixos. Muitos povos viveram ali, nos períodos ancestrais, inclusive os povos celtas. Mas foram os romanos que a transformaram em centro urbano de relevância, com a construção de alguns templos e de alguns edifícios termais que fizeram a fama da cidade.
O imperador Carlos Magno gostava tanto da cidade que decidiu construir o seu palácio, e a fazer a sede do seu governo. Após a sua morte, Magno foi enterrado na capela de seu palácio que foi transformado em uma catedral, onde os reis germânicos passaram a ser coroados sobre as bênçãos do imperador. Esse fato transformou Aachen em um dos maiores locais de peregrinações religiosas devido a sua catedral. A construção dos muros da cidade finalizou em 1171, mas as muralhas externas foram construídas em 1257.
População
Tem aproximadamente 14 mil habitantes, sendo em sua grande maioria cristãos católicos. Ciganos frequentam a cidade periodicamente em suas caravanas, e há alguns judeus vivendo na cidade.
Economia
A cidade se sustenta principalmente do turismo religiosos e das visitações as fontes termais que muitos acreditam ter funções curativas. No turismo religioso, os fiéis visitam a catedral (sede do antigo palácio de Carlos Magno), com arquitetura que varia do romano ao gótico, e um dos grandes eventos de peregrinação, é quando os ossos do imperador são exibidos ao público a cada sete anos. Os tecidos de Aachen também são muito apreciados pelos peregrinos e constituem outra fonte de renda para a cidade.
A Febre de Aachen
ESTRUTURA DA AVENTURA
Aventura |
A Febre de Aachen |
Quando? |
Século XV |
Onde? |
Oeste da Alemanha, fronteira com a Bélgica e os Países Baixos. |
Que? |
Três pessoas caíram doentes com febre altíssima e chagas espalhadas pelo corpo. O Bispo Wagner, teme que a peste tenha chegado a cidade, e escreve ao Arcebispo de Paris, seu velho amigo Jean Pierre. |
Porque? |
A cidade Aachen é o destino final dos restos mortais do imperador Carlos Magno, a cada sete anos seus restos mortais são exibidos, o que gera uma grande peregrinação a cidade. Aachen também é conhecida pelas suas fontes termais, o que causa uma grande procura devido a supostas propriedades curativas das águas. Os tecidos da cidade são muito apreciados, o que a fazem parada quase certas para muitos mercadores. Com todo esse contexto, seria péssimo para a cidade ter um surto de peste, tendo em vista que boa parte da renda da igreja vem dos tributos pagos pelos serviços fornecidos pela cidade, especialmente os peregrinos religiosos em busca de ver o imperador. |
Quem? |
Bispo Wagner, Evelyn (esposa do estalajadeiro), Marcus (estalajadeiro), Koln (Prefeito). |
Cena 1: A viagem para Aachen
A viagem entre Paris e Aachen tem uma duração de em média oito a dez dias, em uma caminhada; ou entre dois a três dias a cavalo. O tempo de viagem pode ser encurtado ou alongado dependendo do tempo e da disposição do grupo, dos meios de transporte empregado, e das condições climáticas e das adversidades encontrados no local. Nesse caso grupo fará a viagem na primavera, com clima e temperatura agradável. Mas o caminho para Aachen não é fácil, há floresta e elevações geográficas que podem guardar alguns perigos para os jogadores.
Teste de jornada: o grupo deve decidir qual o personagem será o guia na jornada, o mesmo deverá fazer a rolagem de jornada, nesse caso com dificuldade 1 (necessita de um sucesso), o jogador deve relacionar o atributo em questão mais os aspectos relevantes, e justificar interpretativamente a escolha de ambos. Exemplo: Claude o Inquisidor, tem “Mente” +2 e o aspecto “Peregrino”, o aspecto indica que ele tem uma longa experiência em viagens, logo ele será o guia na jornada. E tem três dados para a rolagem, e necessita de apenas um sucesso. Caso consiga seu objetivo a viagem transcorre sem problemas (a não ser que o narrador esteja preparando algo para o grupo.
Role 1d6 ou escolha uma situação |
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1 |
O vigia cochilou, e os equipamentos foram roubados, com exceção da arma mais usada. O grupo precisa resolver a situação, enquanto não solucionar todos estão com a condição “Estressado”. |
2 |
A comida que já não era muita, estragou-se. A fome é uma das coisas que mais mata no Medievo, o grupo precisa encontrar comida urgentemente. Enquanto não solucionam a situação, estão com a condição “Abatido”. |
3 |
O grupo se perdeu andou em círculos durante todo o dia, precisa de um novo teste no outro dia para reencontrar a rota, a viagem amenta em um dia para cada teste que ocorra falha. E os jogadores marcam a condição “Cansado”. |
4 |
Alguém cai muito doente, deixe os jogadores escolher, pode até ser um dos cavalos, mas presentei aquele que assumir o custo da doença (não esqueça da condição negativa temporária) com um “Ponto de Fé” temporário. |
5 |
O grupo é atacado por assaltantes da estrada, são pegos automaticamente de surpresa. |
6 |
O grupo é atacado por lobos, são pegos automaticamente de surpresa. Há um lobo para cada personagem, e um líder. |
Assaltantes da Estrada:
Nível de dificuldade: 2
Armadura: -2, Fé: 0 e Saúde 10.
Aspectos: roubar, dissimulação e ventriloquíssimo, lutar com espadas curtas e beberrão. Arma: espada curta – 6d.
Lobos
Nível de dificuldade: 2
Armadura: 0, Fé: 0 e Saúde: 8 Aspectos: ágil, furtivo e ataque em grupo. Arma: mordida (4d).
Cena 2: A cidade de Aachen
A cidade é murada, tendo suas fazendas do lado de fora do muro, alguns celeiros são vistos a distancias, as tão faladas fontes termais estão dentro dos muros da cidade, poucas pessoas são vistas do lado de fora, e as que são estão especialmente trabalhando nas colheitas, caso o grupo aborde alguém para obter algumas informações, encontrará um fundamentalista que acredita que os ciganos devem ser mortos, mesmo essa pessoa não sabendo da doença que assola três pessoas na cidade.
Técnica narrativa: pedir para cada jogador criar um boato ou informação sobre a cidade, que o seu personagem tenha ouvido através de viajantes ou interlocutores na sua cidade natal.
O grupo deverá ir ao encontro do Bispo, que estará esperando os mesmo na catedral. O bispo é um homem velho, parece ser um pouco enfraquecido pela idade, com cabelos brancos, mas muito respeitado na cidade. Ele contará ao grupo que no prazo de uma semana três pessoas caíram com a enfermidade, e entre o envio da carta e a chegada do grupo mais quatro pessoas caíram com a doença. Quase todas trabalhavam nos campos, com exceção de Rudiger, um jovem que trabalha fazendo os mandados do Estalaria. O padre fala que muitas pessoas culpam os ciganos que sempre passam em caravanas nos arredores da cidade, e outros os poucos judeus que habitam em Aachen, e que o clima está hostil, a cidade parece um barril de pólvora, mas que ele não acredita nisso, e que a doença deve ter outra fonte, mas está muito velho para resolver isso sozinho, por isso pediu ajuda ao Arcebispo.
O bispo passa para os jogadores uma lista das pessoas mais influentes da cidade, e que estão a par da situação, e que podem ajudar de alguma forma, e o que elas pensam:
a) Marcus (estalajadeiro): “são os malditos judeus, que matam os nossos negócios, eagora querem matar a cidade. Queimem eles e tudo estará resolvido”.
b) Evelyn (esposa de Marcus): “ele (Marcus) teve ódio dos judeus, não acredito que elestenham alguma coisa a ver com isso, mas sim os ciganos”.
c) Jürgen (Prefeito): “Não há dúvidas que são os ciganos. Sempre que eles seaproximam da cidade, coisas esquisitas acontecem. Se o senhor precisa posso juntarlenha para queimar todos eles”
d) Baruch (Rabino): “Não respeitam as leis de único, e por isso são castigados. Muitossão falsos cristãos, e na verdade são adoradores do diabo”.
e) Ingrid (Vendedora de Frutas): “Não são ciganos e nem os judeus, mas sim aqueles que se encontram nas noites de lua no celeiro norte. Não digam que eu falei nada”.
f) Rudiger (funcionário da estalaria): Eu comecei a me sentir mal, depois que fui no celeiro norte, no celeiro amaldiçoado”.
g) Fazendeiros: “Aquele celeiro é amaldiçoado, todos os doentes andavam lá”.
Cena 3: Mais um infectado
Enquanto investigam, os jogadores são interrompidos aos gritos com a informação que mais uma pessoa caiu doente, e agora o pânico toma conta da cidade. O estalajadeiro faz discursos contra os judeus, e grupos de pessoas se formar para organizar um ataque. Ao mesmo tempo o Prefeito reúne alguns homens de confiança e preparam um ataque contra os ciganos. O Bispo Wagner está em pânico, não sabe o que fazer. Os judeus se reúnem na casa do Rabino, e preparam a sua defesa. A cidade vai explodir.
O novo infectado é mais um rapaz que trabalhava nos campos, e que tinha ido com Rudiger no Celeiro Norte, ele diz ter visto homens indo à noite no celeiro, e durante o dia foi ver o que tinha, mas não encontrou nada, apenas ratos, muitos ratos negros, e adoeceu logo em seguida.
Mais tumultos na cidade, os fazendeiros chegam com uma jovem deficiente, e alegam que ela é a causa da praga de Aachen, pois ela conversa com o demônio. Logo uma fogueira estás sendo formada. Os jogadores sabem que ela não tem nada a ver com isso, e precisam correr contra o tempo, pois a sanha de barbárie do povo está fora de controle.
Cena 4: O Celeiro
O grupo chega ao celeiro, o mesmo está lacrado, mas algumas aberturas denunciam que pessoas andaram lá recentemente, e inclusive existem pegadas. O grupo vai encontrar muitos ratos no celeiro, E um esqueleto de um enforcado, ainda pendurado nas cordas. Deve tomar cuidado para não serem mordidos, ou então farão testes de vontade para não ficarem infectados. Há muita sujeira e umidade no local, fazendo um cheiro horrível, os jogadores precisam fazer testes de vontade.
Técnica Narrativa: problemática e solução; em sentido horário cada jogador vai dizer um problema que ocorreu durante a investigação no celeiro, para o jogador da esquerda. Esse deve dizer como o grupo solucionou o problema, e passar um problema para o próximo jogador da esquerda. Essa sequência deve ser seguida até chegar no jogador que iniciou a técnica.
Caso durante a técnica narrativa o grupo não tenha encontrado uma passagem no celeiro, o personagem com investigação vai descobrir que debaixo do da vegetação seca do celeiro tem uma passagem escondida. Ao se aproximarem os jogadores devem fazer um teste de agilidade (corpo + aspectos relevantes), pois boa parte do chão do celeiro vai ceder e os jogadores cairão em um túnel subterrâneo, todo sujo de fezes de ratos, e restos de comida, e inclusive de ossadas humanas, especialmente de crianças. Teste de Vontade para não ficarem nauseados (corpo + aspectos relevantes).
Se decidirem explorar o subterrâneo vai começar e encontrar mais ratos, e notarem que todos eles correm para o mesmo local, podem seguir a trilha dos ratos, e também notarão que existem no chão lamacento pegadas humanas recentes, indo na direção onde os ratos estão. Mas há outros locais para explorar conforme o mapa.
O grupo cai em uma bifurcação (ponto 1). Caso sigam a direita, vão encontrar locais onde corpos são preparados para sacrifícios humanos, e vão encontrar um pequeno túnel de fuga que vai em direção a cidade, que vai dar dentro de uma das propriedades do prefeito. Se o grupo seguir na direção à esquerda, será caminho para onde todos os ratos estão correndo, e vão encontrar um caminho de lixo e podridão, até chegarem em uma sala onde a pedra foi trabalhada e há um grande altar, onde está o Rei Rato sendo alimentado por todos os outros ratos. Em uma sala onde existem sacrifícios humanos para esses ratos, especialmente de crianças.
Cena 5: O Rei Rato
O rei vai guinchar, e os outros ratos partirão para cima do grupo como um enxame, individualmente são inofensivos, nesse momento tochas serão muito bem-vindas, o rei também não haverá dificuldade em vencer, mas a grande questão é a peste, os jogadores farão testes a cada rodada que permanecerem na presença do Rei, ao teste de vontade (corpo + aspecto).
Ratazanas
Nível de dificuldade: 1
Armadura: 0, Fé: 0 e Saúde 4.
Aspectos: roubar, dissimulação, sentidos aguçados e ágil Arma: dentes 1d
Especial: transmissão de doenças (teste de vontade a cada rodada).
Rei Rato
Nível de dificuldade: 2
Armadura: 0, Fé 0 e Saúde: 20
Aspectos: ataque em grupo, sentidos aguçados, comandar e causar medo. Arma: mordidas d2
Especial: transmissão de doenças (teste de vontade a cada rodada).
O Rei Rato é um amalgama de ratos, que estão unidos pelos rabos, seja por sujeira, gelo, sangue ou calcificação devido a vivência em ambientes insalubres. A simples visão de uma toca do Rei causa náuseas e horror nos mais fortes dos cavaleiros, além das doenças que ele pode espalhar para os que entram em contato.
Conclusão
O grupo volta à cidade com o resultado das investigações, a fogueira onde a jovem está sendo queimada, já está alta, e ela sem vida. As pessoas bebem e comemoram, o prefeito discursa. O Bispo chora. E chegada a hora de revelar o que foi descoberto e tomar as providências. Lembre-se o personagem inquisidor tem o poder da justiça divina, e deve usar com sabedoria.
Ganchos para próximas aventuras:
- Crianças andam sumindo em várias cidades, será que o grupo que alimentava o Rei Rato com elas, existem em outras cidades?
- O Rei Rato é o responsável pela peste, vamos procura-lo em todas as cidades onde ela surgir!
- Nas cidades vizinhas, celeiros estão sendo queimados. A fome se espalha.
- Os ciganos preparam uma ofensiva contra a cidade de Aachen.
Anexo 01: Carta do Bispo de Aachen
“Prezado amigo, e Arcebispo de Paris; venho neste momento de aflição pedir ajuda, pois se aproxima o ano da exibição pública dos restos mortais do imperador, e três pessoas caíram com febre, e grandes chagas espalhadas pelo corpo. Os moradores estão em pânico, alguns acusam os ciganos que passam pela região, de realizarem rituais com o demônio nas noites de lua cheia. Outros querem matar os judeus que vivem nesta pacata cidade. Mas uma mulher diz que há adoradores do diabo em Aachen. Preciso de sua ajuda”.
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